Capitulo 5
Será que quando
eu voltar a minha realidade tudo vai voltar a ser como antes?
Será que não dá
pra ter um meio termo, não? Tipo, eu continuar a ter uma mãe?
Sabe ter um
carro é legal, roupas novas também. Tá não vou ser hipócrita ao negar que fiquei
feliz ao não precisar mais ir a pé pra casa, agora chego seca e não preciso
sair de casa tão cedo, e não me importo nem um pouco de levar a Pê pro colégio
no outro lado da cidade.
Só gostaria de
não me sentir tão confusa, é claro que eu em minha condição de adolescente vivo
em um estado permanente de confusão, mas convenhamos, o meu estado tem
extrapolado e muito o bom senso. Por isso, tenho ficado na minha — como sempre.
— Ei mocinha,
onde pensa que vai com tanta pressa? — Freddy me girou até que parasse em
frente a ele.
— Oi Freddy.
Indo pra casa e você?
— Kyra, Kyra.
Tem de parar de se esconder, ou logo você vai desaparecer...
— Qual é o
episódio da vez?
Quando o Freddy
começa a filosofar é porque ele pegou alguma maratona de algum seriado
futurístico, daqueles onde se começa com... “O espaço, a fronteira final”[1]
— Nenhum. — A
cara que ele fez me dizia o contrário, e como não estou a fim de discussão
deixei essa passar.
— Sei.
— Sabe eu
realmente penso que você deveria expandir seus horizontes Kyra. Que tal cinema
e sorvete na sexta?
Hum, sorvete?
Você realmente sabe como tentar uma garota.
— Isso é um
convite ou vou servir de cobaia pra algum estudo? — Da última vez que fui
convidada pelo maluco do meu amigo pra algo ele queria me usar pra provar que
uma tese estúpida de algum cientista estava errado, nem preciso dizer que
fiquei fula ao descobrir isso.
— Apenas um
singelo sorvete. — Ele sabe fazer cara de sofredor como ninguém. Só que eu o
conheço muito bem pra cair nessa.
— Sei.
— Tá bom, to
querendo ver Massacre na lua escura, e como de todos que conheço só você
curte esse tipo de filme. — Ele deu os ombros. É por isso que somos amigos
desde sempre, um conhece muito bem o outro pra se deixar levar por meras
palavras.
— É claro que eu
vou, ainda mais por que você vai pagar a pipoca. — Sai indo da cara dele.
— Pipoca? Que
pipoca? Combinei sorvete. Kyra!
Os corredores já
estão cheios, a minha saída tão bem planejada foi por água abaixo.
— Droga.
O Amon está
parado conversando com não-sei-quem e pra sair vou ter de passar por ele.
Desde o episódio
da minha piração na piscina e a minha conseqüente ida pra casa dele não o vi
mais, sou boa em me esquivar de ser vista.
Amon franziu a
testa quando me viu passar rapidamente sem o cumprimentar, se não fosse pelo
Lance ter agarrado o meu braço era exatamente isso que eu ia fazer.
— Que eu saiba
você ainda tem educação, não vai dizer: oi primo? — Ele me olhava como se eu
tivesse cinco anos novamente. Tá eu concordo, nem sempre é fácil ter educação
sendo uma adolescente do segundo grau.
— Oi primo, olá
Amon. — A minha vontade era a de sumir. Nem pro Amon estar um pouco mais
afastado. As pessoas passavam fazendo caretas. É eu queria morrer. Só de
pirraça o Lance segurou a minha mochila, impedindo que eu saísse correndo. A
conversa deles parecia não ter fim. Claro que isso é premeditado. — só pra me
irritar.
— Kyra, baixei
uns filmes que você curte, não está a fim de ir lá em casa depois da aula ver?
O Amon ficou de levar as pipocas.
Eu me engasguei
é óbvio. O Amon havia me dito que nunca saía, é cem por cento treino. Que raios
está acontecendo aqui? Antes que eu tivesse a oportunidade de perguntar a
total-super-colante namorada do Amon apareceu.
— Vão onde, que
se esqueceram de me convidar? — Ela serpenteou inteira em volta do pobre e
lindo Amon, se enrolando toda em volta dele. — Cobra!
— Olá pra você
também Amanda. Parece que nesta escola as pessoas se esquecem da boa educação.
Pelo visto o meu
querido primo não ia muito com a cara dela não. Ela deu os ombros sem se importar
de mostrar uma grama sequer da boa educação. Ela lançava fogo pelos olhos em
minha direção. Fingi que não era comigo.
Amon sempre tão
gentil pigarreou tentando acalmar a situação.
— Vamos a casa
do Lance, quer vir junto?
Eu mordi a
língua pra evitar de gemer diante do convite e do ar todo bobo que ele fez pra
namorada-grude-cobra dele.
— E por que é
que a aberração da escola foi convidada? — Ela bem que podia ter falado isso em
um tom normal de voz, mas não, ela tinha que falar alto o suficiente pra escola
inteira escutar, e nem precisou de megafone pra isso. Eu só não saí correndo
por que o Lance continuou a agarrar a minha mochila, e também, neste exato
momento, ele está bufando de raiva.
— Olha aqui sua
vadia, limpe a boca pra falar da Kyra. Pelo que me consta a única esquisita de
verdade do colégio é você.
A guria ficou
roxa, eu até poderia ver a fumaça saindo por suas orelhas. Ódio é pouco para o
que ela está sentindo agora.
— Estranha? Como
ousa garoto. A única aberração aqui é essa garota, que chegou ao cúmulo de
inventar que está namorando com um cara que sequer sabe que ela existe.
— Peraê. Eu
nunca disse que eu namoro alguém. Nunca disse que tenho um namorado.
Agora o colégio
inteiro acompanha a discussão.
— Há disse sim,
me lembro perfeitamente, quando eu flagrei você na hidro com o meu NA-MO-RA-DO!
Puta merda e
agora, fui promovida a vadia ladra de namorado número um do colégio.
— Se ela está
dizendo que não tem namorado, é porque não tem! — Dá pra sentir a irritação do
Lance.
— Amor, você
está nervosa, se acalme. — Ele bem que tentou fazer com que ela recobrasse o
juízo. Um desperdício total de palavras. Ela realmente está interessada no
escândalo e me enterrar socialmente de vez.
— Não me calo
coisa nenhuma. Eu falei com o seu precioso namorado e rimos muito do quão
patética você é aberração.
— Cala a boca
sua esquisita!
Agora fui eu
quem segurou o Lance, ou ele vai acabar batendo nela.
— É bom você
parar agora Amanda. — O Amon estava perdendo a paciência, justo ele que sempre
foi tão gentil, amigo, está realmente irritado com o circo que ela está
armando.
— Ou o que
atleta de ouro? Me diga?
— É bom parar,
porque a verdade sempre aparece.
Ele fez!
Ele usou a voz
com ela. Meus olhos com certeza devem estar saltando pra fora agora. Se, antes
eu estava quieta pra evitar que a guerra gratuita dela não avançasse pra
agressão física e com isso amargar uma suspensão que eu não ia ter como
justificar pra minha mãe. Putz, se isso acontecer vou perder toda a confiança
que ela inexplicavelmente passou a ter comigo. Por outro lado eu estou nesse
instante muda e com os olhos saltando pra fora das órbitas de espanto, o que
não me impediu de ver o Cedric no meio daquele mar de alunos e se aproximando.
Deus por favor,
faz ele ir embora. Não vou suportar ter de enfrentar o veneno da Amanda e o
escárnio dele ao mesmo tempo.
— Verdade! Você
quer a verdade atleta de ouro? Pois eu lhe dou a verdade. Essa vadia não está
namorando com o Cedric, eu estou!
— O que você
disse? — Ele soltou o braço dela.
Eu olhei pro
Cedric sem acreditar naquilo.
Deus. Devo estar
com a boca aberta repetindo e repetindo as palavras do Amon em minha cabeça.
Minha voz sumiu.
— Vadia!
Alguém ou o
Lance deve ter dito isso, não que importe. O que realmente importa é o porque
eu imaginei que ela falou que está namorando com o Cedric. Como pode ser isso?
E o Amon? Como
ela pode trocar o príncipe dos mares pelo meu Cedric?
Não que ele seja
oficialmente meu, mas justo com ela?
— O que você
escutou garoto dourado. Está olhando pra nova namorada do Cedric Stephanno.
— Aproveite
esquisita. — Amon afastou dela como se ela fosse algo contagioso. Quase tive
pena dela. — quase.
Ela empalideceu
e abriu os olhos como dois pratos. É caiu a ficha agora e percebeu a besteira
que fez.
— Vamos Kyra. —
Amon passou o braço sobre meus ombros me obrigando a andar enquanto o Lance
carregava minha mochila. Me senti como Moisés ao abrir o Mar Vermelho, por que
o corredor se abriu a nossa frente. Podia sentir a tristeza dele, não é fácil
manter a cabeça erguida com o coração despedaçado.
— Ei cara, que
muvuca foi aquela?
— Nada de mais
TJ, só a esquisita da Amanda querendo publicidade.
Queria saber do
porque os garotos perderem tanto tempo fazendo aqueles cumprimentos sem sentido
de ficar batendo os punhos um dos outros. Esse TJ deu um longo assovio e
enrugou a testa perfeita dele.
— Estão indo
aonde? — Ele começou a andar, ou melhor ele parecia uma galinha choca quicando
de lá pra cá.
— Lá em casa.
Vamos ter uma sessão extirpa e sangra. — Meu primo falou sem muito animo.
— Uau to nessa.
Vai chamar a turma?
— Tudo bem, mas
sem cerveja e sem mulher. — Meu primo não está em seu melhor humor, posso ver
isso no rosto dele.
— Pô, assim não
tem graça cara.
— Minha casa,
minhas regras.
— Ok. Ok. Vou
falar com a galera e avisar pra só levarem refri.
A essa altura já
estávamos saindo pela porta em direção ao estacionamento o TJ desceu em direção
contrária falando com-não-sei-quem no celular, pelo visto ele ia pro ginásio.
— Lance, olha
só. Tenho de ir pegar a Petúnia. Fica pra outro dia tá, as coisas saíram meio
fora de controle. — Ou ele não me escutou ou fingiu que não me viu, porque ele
começou a falar freneticamente no celular.
— Lance, me
escutou? — Ele continuava a falar, só levantou a mão e me deu as costas. Se ele
não fosse o meu primo e eu gostasse dele eu o matava agora mesmo.
O Amon
continuava com o braço em meus ombros, eu o sentia tremer. O garoto vai desabar
a qualquer momento. Comecei a andar em direção a carro dele. Rezava pra que ele
tivesse condições em dirigir.
— Suas chaves. —
Ele está andando como um zumbi.
—Suas chaves
Amon. — Ele me olhou como se eu estivesse falando em latim. Merda, o cara tá em
choque. O encostei contra a lateral do carro dele. Definitivamente ele está em
choque, está com aquele olhar perdido.
— Olha só, eu
vou colocar a mão em seu bolso pra pegar a chave tá. Não vai pensar nada de
errado. — Não sei por que estou falando, ele não deve estar escutando nada
mesmo. Coloquei a mão no bolso dele, rezando pra não tocar em nada mais que a
chave do carro. Chave na mão, porta aberta, o fiz entrar, alguém vai ter de
dirigir o carro dele. Esperei o Lance se aproximar pra avisar que ele vai ter
de arrumar alguém pra levá-lo pra casa. Alguém tem de ficar com ele.
— A Lilith está
vindo.
O que a minha insensível
irmã tem a ver com o que está acontecendo? E por que raios ele a chamou?
— Não entendi.
Porque a chamou, você a detesta. — Eu sentia as rugas em minha testa, eu perdi
alguma coisa?
— Pra levar o
seu carro. Você dirige o do Amon.
Eu olhei pro
Amon sentado com o olhar perdido.
— Tá louco? Eu é
que não vou dirigir o carro do primo dele. Sabe quanto vale essa coisa? Pois eu
não, e não quero correr o risco de bater ele. Você o dirige. — Joguei as chaves
pro Lance, quando fui me afastar o Amon segurou o meu braço.
— Por favor.
Jesus, como
alguém em sã consciência vai negar algo a ele? Só aquela maluca da Amanda pra
fazer isso.
— Não posso
dirigir esse carro. E se eu bater?
— Por favor.
Eu fechei os
olhos. Droga ele é o cara errado. — Mundo paralelo alôôôô.
— Vamos no meu,
eu preciso ir buscar a minha irmã e já estou atrasada, depois voltamos e
pegamos o seu.
— Minha mãe já
foi buscá-la e avisei a sua mãe de que você vai passar uns dias lá em casa. Ela
vai levar algumas roupas pra você. Não se preocupe eu expliquei tudo a ela, só
preciso da sua chave pra Lilith levar o seu carro.
— Opa, alguém me
chamou?
— As chaves
Kyra!
Certo, certo. Que
Deus tenha piedade e que o Panteão dos anjos me proteja. Dei um suspiro, essa
eu perdi.
— Dentro do
bolso externo da mochila.
Lance abriu o
bolso a procura da chave e a passou pra Lilith.
— Você leva o
carro da Kyra, já avisei a tia. Nós vamos ver uns filmes lá em casa.
— Legal, que
tipo de filmes? — Perguntou toda acesa. Claro, a estrela do colégio levou um
toco em público há alguns minutos atrás, a chance de saber mais detalhes é
tentador.
— Festival
Godzila e Jogos Mortais.
Tive vontade de
rir, ela detesta esse tipo de filme, acho que é por isso que eu gosto tanto.
— Ai credo, que
horror. Quer que eu vá te buscar mais tarde?
Seja bem vindo
ao mundo paralelo, onde a sua realidade é inversamente oposta a tudo o que você
conhece. Alôôô. A Lilith N-U-N-C-A foi gentil.
— Não precisa.
Vamos? — Ele saiu levando a minha mochila, o Amon continuava a segurar o meu
braço e a Lilith com aquele olhar ansioso.
— Ok, vamos. —
Dei um sorrisinho pra que ele me soltasse e dei a volta rezando pra não bater
em ninguém no caminho.
— Você está bem?
— Eu precisava fazer algo ou não ia conseguir tirar o carro do estacionamento
do colégio, e ele está muito quieto.
Após engasgar o
motor umas cinqüenta vezes consegui fazer essa máquina começar a rodar. As
minhas mãos soavam em volta do volante. O Amon olhava pela janela com aquele
olhar perdido. Eu estou tão triste por ele, ele parece gostar muito daquela
cobra.
— Não prefere ir
pra sua casa? Talvez queira ficar sozinho pra pensar. Sei lá eu...
— Você tinha
razão, eu não quis acreditar. — A voz suave dele era como música.
— Eu tinha? Hum,
sobre o que exatamente? — Sabe o tico e o teco não estão trabalhando muito
hoje. Eu mantinha os olhos na estrada, devo estar sei lá a uns vinte por hora,
não ligava a mínima. Não quero correr riscos desnecessários. Também sou boa em
ignorar as buzinas histéricas atrás de nós.
— Eu fiz como
você falou, usei a voz e ela falou. Suponho que também eu seja meio peixe, o
que vai ferrar com as minhas intenções de ir pras olimpíadas.
Eu fiquei em
silencio tentando achar algo pra dizer a ele. O que eu poderia falar? O cara
havia perdido tudo, o mundo dele virou do avesso na mesma tarde.
— Bom, se você
fizer a maior parte do treinamento na sua casa, e evitar as provas muito
longas, pode dar certo. Só não posso dizer que dê pra você ir pras olimpíadas.
Isso vai depender do quanto tempo você ainda tem antes de se transformar. Isso
se realmente você for um tritão.
— Acredita
nisso?
— Amon, nesta
última semana o meu mundo enlouqueceu. E neste exato momento eu estou rezado
pra tudo quanto é santo que existe que não me deixe bater esse carro. Estou tão
apavorada que não sei como estou conseguindo dirigir.
— O carro têm
seguro.
— Mas eu não. —
Uma maldição saiu da minha boca quando o carro morreu.
Ele abriu a
porta e desceu do carro.
— Tudo bem eu
dirijo. — Ele abriu a minha porta.
— Mas, mas.
— Relaxa. Eu
estou bem. Sou um peixe, lembra? — Ele me deu aquele sorriso-raio-de-sol. Eu
desci e o deixei assumir o volante. As buzinas continuavam. A fila de carros
atrás estava enorme. Por que é que eles não passam pelo outro lado? Depois eu é
que sou a estranha.
Sentei, coloquei
o cinto e ele ligou o cd player e colocou no último volume. Posso sentir a
vibração da garganta do Chester em minhas costas.
Deus sou bem
capaz de amar esse garoto. Ele gosta de filmes de terror, do Linkin Park, do
que mais uma garota precisa? Sorri pra ele e ele pisou no acelerador. Dessa vez
não fiquei enjoada, estava babando diante do sorriso dele.
Assistir filmes
na casa do Lance até que foi legal, isso se não levar em conta todos os gorilas
que tive de passar.
Heloooo eu sou a
esquisita lembra?
Gorila número
um:
minha mãe abraçando o Amon e agradecendo pela quinquionésima-centésima-milésima
vez.
Gorila número
dois:
a equipe de ouro me olhando esquisito.
Gorila número
três:
os vip’s do colégio me olhando esquisito.
Gorila número
quatro:
os trinta garotos espalhados pela sala me olhando esquisito.
Gorila número
cinco:
sou a única garota e ainda por cima, esquisita.
Gorila número
seis:
ter de dirigir novamente o carro do primo do Amon enquanto o Lance nos segue.
Realmente eu não entendi do porque ele não dirigir a droga da Ferrari e me
deixar dirigir o Crysler dele. Pensei que dirigir essa coisa era o sonho de dez
entre dez garotos.
Gorila número
sete:
ter de levar o Amon pra cama — dele e saber de primeira mão pelo meu estimado
primo que eu terei de retribuir a favor e ficar de olho nele. Ele saiu me
deixando naquela casa sozinha com o Amon — novamente.
Por via das
dúvidas, dormi de jeans.
Eu olhava critica
as dezenas de prateleiras cheias da geladeira do Amon, tentando encontrar algo
normal ali. Como um bom garoto meio-peixe ele é um adepto a alimentação
saudável. Argh. Tudo bem, eu gosto de saladas, mas alôôô não no café da manhã.
— Finalmente
algo útil, ovos. — Tirei a embalagem a colocando na pia. Será que o Amon come
muito? Acho que seis bastam, se ele não comer eu como no almoço. Meu estomago
resolveu encrencar, começando a reclamar de fome.
— Bom dia.
Quase deixei
cair os ovos.
— Bom dia. Está
com fome? Espero que não se importe. — Mostrei os ovos que estou a ponto de
quebrar.
— O que está
fazendo? — Ele sentou na banqueta e ficou olhando. Ele está com cara de sono,
como se houvesse acordado antes da hora, ficou totalmente evidente quando ele
apoiou a cabeça na mão, ele não parava de bocejar.
— Acho que
alguém não dormiu o suficiente. Como gosta dos ovos? — A minha atenção
totalmente voltada pro café da manhã, meu estomago não para de roncar. Fiquei
rezando pra que ele não escutasse.
— Mexidos. Tem cheddar
na geladeira.
Terminei de
quebrar os ovos e joguei as cascas no lixo. Ótimo fiz a maior sujeira.
— Aqui. — Ele
colocou o queijo na bancada ao lado da pia e começou a abrir as portas da
infinidade de armários e a antecipar o que eu acabaria pedindo a ele. No fim,
acabei sentada olhando ele cozinhar.
Chegar na escola
em uma Ferrari e com o garoto mais popular não é pra qualquer um, mas a melhor
parte foi ver a cara de ódio da Amanda, principalmente quando ela foi deixada
bufando sozinha no estacionamento. O Cedric não a esperou. O Amon não disse uma
palavra sobre o que aconteceu e algo me diz que ele não vai falar nada. Por
fim, acabei onde a Lilith sempre quis estar — entre os populares da escola.
A ficha caiu
quando entendi o porquê de tanta gentileza por parte dela, eu poderia abrir
esse mundo pra ela — pro meus dois irmãos egoístas. A vida é realmente uma
caixinha de surpresas.
— Ei mana,
precisa de carona pra casa? — Fechei meu armário, não acreditando em meus
ouvidos. O Cris está falando comigo e em público? Eu me virei lentamente pra me
deparar com o meu irmão parado e me olhando, será que ele está esperando
resposta?
— Er, eu tenho
um carro agora. — Sério isso já extrapolou a barreira do além da imaginação,
não que eu esteja reclamando dessa dimensão bizarra, mas, qual é isso já abusou
de qualquer bom senso.
— Se precisar é
só falar. Te vejo em casa. — Ele se virou e saiu.
Bom eu não posso
ficar ali parada, não é? Peguei o CD com a pesquisa pro Amon e segui o fluxo
pra fora. Se tivesse sorte o veria no estacionamento, entregaria o cd e pronto!
Adeus dimensão paralela e helooo vida insípida de volta.
Abri o olho com
um gemido. Quem é o cretino que resolveu ligar a essa hora da manhã? Cobri a
cabeça e coloquei o travesseiro por cima, não resolveu. Continuo a escutar a
campainha estridente da porcaria do telefone. Por que raios a Lilith não
atende? É pra ela mesmo.
— Droga,
porcaria. — Levantei batendo o pé furiosa por seja-lá-quem-for ter me privado
do meu sono. Ainda não me acostumei a dormir em uma cama, com exceção da do
Amon. Eu desmaio na cama dele, deve ser o nervoso por estar tão próximo de um
garoto.
Será que ninguém
escutou o telefone berrando?
— Alô.
— Kyra?
— Lance? Por que
raios você está ligando a essa hora?
— O Amon não
está atendendo ao telefone.
—
Pelo-amor-de-Deus o cara tá dormindo, são cinco da manhã, você não tem relógio
não?
Estou tentada a
desligar o telefone e voltar pra minha recém adquirida cama.
— Kyra, por
favor. Vai até lá e dá uma olhada se está tudo bem. — Que coisa estanha os dois
nem eram amigos até a uma semana atrás e agora ele está quase surtado de
preocupação.
— As cinco da
manhã? Sem chance e além do mais você mora mais perto. Se está preocupado vá
checar, vou voltar a dormir, passei metade da noite estudando e não quero dormi
em cima da minha prova.
— Mas Kyra.
— Boa noite
primo. — Desliguei o telefone. Ainda estou no mundo paralelo. Subi a escada me
arrastando pro meu novo quarto. Uma coisa boa, o sono não me abandonou.
Meu primo é um
manipulador e tanto. Sorte a minha que ninguém da minha família tem isso ou eu
estava ferrada de vez.
Acabo de deixar
a Pê na escola e tenho as palavras do Lance martelando na minha cabeça. “O
Amon não está atendendo ao telefone. Vai até lá e dá uma olhada se está tudo
bem.”
— Droga. É
melhor você estar bem, ou eu vou ficar muito zangada. — Passei voando pelas
ruas. Esquerda, reto, esquerda, direita. O velho Ford quis começar a resmungar.
— Sem essa. A
minha mãe dirige bem pior e você não fala nada, então fica quieto e vai mais
rápido. — Pelo visto acabei com a rebelião da máquina. Finalmente a esquina da
casa dele. O portão da garagem estava se abrindo. Um bom sinal não é? Nenhum
carro da emergência a vista.
Zero desculpa é
exatamente o que eu tenho.
A Dodge preta
sai da garagem. Respirei aliviada ao ver o Amon dirigindo. Não devia ter levado
tão a sério o Lance.
— Kyra? Havia
marcado com você? — Ele parou ao lado do meu carro-ferrado-Ford.
Zero desculpa
Kyra, lembra?
— A verdade é
que o Lance não me deixou dormir, ele me disse que você não estava atendendo o
telefone. — Nada como ir direto na ferida.
— Não devo ter
escutado, estava estudando e a música ficou meio alta.
Eu te entendo amore
perfeitamente, há se entendo.
— Sei como é,
vou avisar o Lance, as vezes ele dá uma pirada. — Hum isso tá ficando estranho.
— Te vejo por
aí.
Fiz a volta
enquanto via a camionete dele desaparecer na curva da rua.
— Bem vinda de
volta ao mundo real Kyra. A vantagem é que agora você está motorizada.
Liguei o rádio e
fui pra escola ao som do T-pac. Não sou fã de rap, mas cara, ele sabia como
fazer a coisa.
— Sala de
música? E porque raios eu tenho de ir pra lá? Nem tenho aula de música. —
Olhava o papel na minha mão sem compreender a insanidade desse homenzinho na
minha frente.
— Olha aqui senhor,
estou fazendo um teste, ok. Você se enganou. — Entreguei o papel e voltei pra
minha carteira. E eu pensando que tudo havia voltado ao normal.
— Kyra!
— O que?
— Quando
terminar deve acompanhar esse, esse senhor.
Putz o cara
ainda está ali? Tem certas pessoas que não entende mesmo.
— Que seja. —
Acho que devo ter bagunçado de alguma forma essa realidade por que as pessoas
perderam o pouco bom senso que possuíam.
— Kyra!
Se me chamarem
de novo vou gritar. Levantei a cabeça irritada, apontei a prova e voltei as
perguntas.
Quinze minutos
depois estou andando pelo corredor, escoltada por esse cara esquisito (é porque
ele é muito esquisito), até a porta da sala de música, o cara ficou na porta
até que entrei. Sinistro isso.
— Oiê, tem
alguém aí? — Ótimo! Apurrinharam durante o teste e pra que? Pra nada, não tem
ninguém aqui.
— Seja quem for
que estava aqui deixou o cd player ligado.
— Tá perdida
Kyra? — Uma voz doce e rouca me fez virar pra porta.
— Amon! Parece
que é você quem está perdido. — Ri do ar sofrido dele.
— Horário vago.
E aí o que está fazendo aqui?
— Não tenho
idéia. Um sujeito muito do esquisito quase deu um de homem das cavernas e me
arrastou da sala de aula e não tem ninguém. — Ambos olhamos pros lados.
Ninguém. A música também parou.
— Tem aula
agora?
— Fui
dispensada. — Chacoalhei o papel da dispensa. Ele sorriu. Não um sorriso
qualquer, aquele sorriso de quem está tendo idéias que pode dar problemas se
formos pegos.
— Bom, parece
que ambos estamos com o horário vago.
— Pois é. —
Sabe, estou começando a não desejar mais voltar pro meu velho mundo. Essa nova
realidade está ficando cada dia mais interessante.
— Sei de um
lugar ótimo, quer vir comigo?
Como não
aceitar, ainda mais ele falando assim. E ainda existe a prerrogativa de um
pedido feito diretamente pelo anjo loiro. É, taí um pedido difícil de recusar.
— Claro, to sem
aula mesmo. — Céus, estou começando a pedir pra não acordar, ainda mais porque
o meu príncipe dos mares pegou a minha mão como se fosse a coisa mais normal do
mundo. Por sorte os corredores estão vazios, assim não teve aquele momento: “ei
olha a garota que era o zero a esquerda com o cara mais popular da escola.”
Sorte a minha, ainda não estou preparada pra certas coisas nessa
louca-realidade-alternativa.
Irritado, um par
de olhos a vê afastar-se com o garoto-peixe.
— Kyra Thompson!
Levantei o rosto
do caderno, deixando o exercício de física que não queria ser resolvido. O
professor Cruz apontou pra porta. O professor tem um nome perfeito, porque cada
vez que tento resolver essas equações me sinto pregada na cruz.
Olhei pra porta,
uma mulher da secretária estava parada com um papel nas mãos e olhava pra sala
como se fossemos um bando de ETs.
— Kyra Thompson!
— Aqui! —
Levantei a mão, o resto da sala olhava tentando adivinhar o que eu tinha
aprontado pra virem atrás de mim. É eu também me perguntava isso.
— Venha comigo! — A mulher se
virou e saiu andando, o professor ficou mais que feliz em me mandar atrás dela.
— O diretor vai
falar com você, entre.
Porque será que
eu e sinto como se estivesse indo pra minha execução? As vezes essa realidade
alternativa assusta. Respirei fundo, dei um sorrisinho meia boca e entrei pela
porta aberta da sala do diretor, ele, claro, olhava uns papéis como se eu não
existisse.
Depois de sei lá,
umas cem horas esperando resolvi agir como um dos descolados do colégio.
Sentei. Já que é pra esperar que, pelo menos eu ficasse confortável, e olha que
a cadeira é bem macia. Por que será que não fazem as carteiras assim também?
Tenho certeza de que se evitaria muita matação de aula.
Acho que vou
começar a andar com um kit de unha nos bolsos, tenho ficado muito tempo olhando
pros tocos que é a minha unha ultimamente.
Resolvi mudar de
tática e comecei a torcer o cabelo, era isso ou acabar sem unhas, e será que eu
ficaria bem de tranças?
— Bem senhorita
Thompson, sabe o porquê de estar aqui?
É óbvio que não,
se eu soubesse não estaria aqui com o cabelo todo torcido.
— Não senhor. —
O chato do diretor sequer olhou na minha cara, ele continuava a mexer no monte
de papéis espalhados pela mesa dele. Porque é que ele não fala logo de uma vez,
não que eu esteja achando ruim matar aula, nos últimos dias tem acontecido
muito.
— Está aqui pela
destruição da sala de música.
Do que é que ele
está falando?
— Como é? — Fala
sério, to tão pasma que nem pensar eu o conseguindo. Brancura total.
—Você destruiu a
sala de música, confesse!
— Eu? Não!
— Conforme o
relatório em minhas mãos, você foi dispensada da sua aula pra que você passasse
o período na sala que agora se encontra destruída e como foi a última a estar
ali, eu pergunto novamente. Você destruiu a sala de música?
— É claro que
não! — Que absurdo isso, deixa o tico e o teco começarem a pensar que eu já
digo onde você deve ir com as suas suspeitas descabidas.
— Então,
explique como a sala se destruiu após a sua partida?
— E eu vou
saber? Ontem um cara sinistro interrompeu a minha prova de história, querendo
que eu fosse pra sala de música e olha que eu nem tenho aula de música e quando
cheguei lá, adivinhe, não tinha ninguém.
— Então a sala
se autodestruiu sozinha?
Meleca.
— Estava tudo
bem ontem quando eu saí com o Amon.
— Com quem?
Uff, até tinha
esquecido do Amon.
— Amon, ele
tinha o horário vago, e como a sala de música tava vazia, despencamos pro
campo.
— Você disse
estar com o Amon, por acaso seria o mesmo Amon Oceanic o nosso medalhista da
equipe de natação?
— Foi o que eu
disse! — Será que ele tem problemas de audição? Ou está falando alto assim pra
que a escola inteira saiba?
— Certo. Irei
confirmar com o senhor Oceanic, não é preciso lhe informar que se sua história
ao se confirmar a senhorita estará em sérios problemas.
Ufa, então não
tenho com o que me preocupar, eu não fiz nada mesmo.
— Pode ir, a
senhorita está perdendo aula.
Essa é boa, me
tiram da aula, diz que fiz algo que não fiz e, putz, fala sério, eu to matando
aula. Eu? Essa é boa.
Beleza! Ele
voltou a olhar e a escrever algo na papelada espalhada na mesa, cai fora antes
que acabasse com uma advertência. Bem no meio do corredor vazio o sinal toca.
— Que ótimo o
sinal e antes de eu chegar na sala.
—Kyra! Beleza?
— Tudo. —
Respondi mecanicamente, seja lá pra quem for.
Esse mundo
paralelo já deu, cansei dessa loucura, vou pra casa, só queria que, sei lá o
que eu quero.
— Vai na festa
Kyra?
— Não to sabendo
de nada não. — Festa! Que festa? Do que é que estão falando?
— Se deu bem
hein Kyra, detonou a fresca da Amanda.
— Eu não fiz
nada! — E quem é essa guria?
— Oi Kyra, faz
tempo que não nos vemos.
— Tá falando
agora comigo é Suzy? — A garota parou bem na minha frente, é impossível não a
ver.
— Amiga, nunca
deixamos de nos falar. Só fiquei ocupada com o meu namorado, você entende não
é? Agora podemos sair juntas eu com o meu e você com o seu.
Putz, do que é
que ela tá falando? Namorado? Peraê, quando é que começaram a ficar legal
comigo e passaram do estágio de ignorar completamente a Kyra e se tornarem
amigos da Kyra?
— Está falando
do que?
— Deixe de
timidez comigo, todos já sabem do seu namoro com o poderoso senhor medalhista
das piscinas, vocês até mataram aula ontem, não adianta tentar esconder, metade
do colégio os viu juntinhos atrás da arquibancada do campo de futebol. — A Suzy
pegou no meu braço e me arrastou pela multidão do corredor como antigamente,
claro que antes era eu quem fazia isso.
— Suzy, não
tenho nada com o Amon, somos só amigos.
— Kyra, Kyra não
é preciso mentir pra mim. Somos amigas, lembra?
— Não estou
mentindo. — Pô é sério, ela devia saber disso.
— Tudo bem,
ainda está zangada comigo, mas você não tinha um namorado e vive sempre nesse
seu mundinho que...
— Que o que
Suzy? — Do que é que ela está falando agora?
— Vamos
Suzannah, parece que a sua antiga amiga está pilhada.
Legal, esqueci
da nova amiga da Suzy, a chata e totalmente fresca Laurie.
— Pode ir
Laurie, vou em seguida. — Ela dispensou a chatonilda com aquele típico
comportamento de Barbie.
Pelo visto só
vou ter a minha amiga de volta se eu estiver de rolo com o Amon. Como ela pode
mudar tanto? Será que eu não vi isso ou eu estava sofrendo de cegueira
fraterna?
Aguardei a resposta
dela, apesar de estar lendo em seus olhos. Desde que ela começou a andar com a
fresca da Laurie a minha ex-amiga mudou. Mudou suas roupas, cabelo, maquiagem.
Estou agora olhando pra versão morena da Barbie e não mais pra minha querida
amiga Suzy.
— Somos só nós
agora Kyra, como antes.
Certo, nós e o
corredor cheio.
Ela sorria, mas
seus olhos... seus olhos estão, cínicos. Deus como pude me enganar tanto assim?
— Quer saber a
verdade?
— É claro amiga.
— Compre o
livro! — Saí o mais rápido que pude do colégio.
Pra mim já deu
dessa realidade, nenhum carro, quarto ou o que quer que seja de benefícios vai
me seduzir. Quero a minha vida insípida de volta.
— Ei Kyra.
— Depois Lance.
— Eu praticamente corria pro estacionamento.
— Espera, quero
falar com você.
Vai ficar
querendo primo. Entrei o velho Ford e saí cantado pneu. Eu dirigi, não pra
casa, não queria explicar o meu surto pra minha mãe, não agora que estou me
acostumando a ter uma mãe. Dirigi pela estrada oeste até o bosque, queria um
lugar onde pudesse pensar, sem ninguém. De alguma forma, preciso consertar essa
bagunça e ter de volta a minha vida.
Estacionei fora
da estrada e comecei a andar por entre os abetos, estava sufocada, precisando
desesperadamente de ar. Corri até o meu coração ameaçar sair pela minha boca.
Até uma clareira aberta por uma árvore caída. Com a mão o coração me sentei. O
fôlego já era.
Todos os
acontecimentos dos últimos dias vieram como uma enxurrada; o meu descontrole na
piscina; o meu salvamento pelo Amon, ele cuidando de mim; a minha mãe
percebendo que eu existo depois de sei lá quanto tempo; o carro; a briga do
Amon com a Amanda na frente do colégio inteiro; o Lance fazendo com que eu
ficasse mais próxima do Amon; a Suzy querendo voltar a ser minha amiga, por que
pensa que eu tenho algo com o Amon, ela e o colégio inteiro.
— Merda! — Pelo
visto se eu deixar de ser a “amiga” do Amon volto a ser invisível novamente.
— Maravilhosa
realidade alternativa. Isso não é justo sabia? Não é justo! — Gritei
pras árvores. Só quero que alguém responda, é tão difícil assim? Uma resposta,
só uma?
— Droga! —
Levantei e saí dali, já deve estar na hora de ir buscar a Pê no colégio.
— Kyra, está
tudo bem? — A minha nova mãe bateu na porta do meu novo-e-recém-adquirido-
quarto.
Acostume-se a
nova realidade! Droga, não dá pra acostumar com toda essa atenção. Passei anos
sendo ignorada e agora.
— Tudo mãe. —
Abri a porta com um sorriso meio forçado, realmente não quero dar motivo pra
ela começar a falar.
— Está tudo bem
na escola? — Ela parecia preocupada.
— Tudo. — Tentei
parecer o mais normal e despreocupada possível. Ela entrou e sentou na minha
cama, me olhando sério. Já vi que lá vem bronca, por que mais ela estaria aqui?
— Tudo mesmo? —
É a minha cara não a deve ter convencido muito.
— Sim mãe. — Agora
tenho certeza, ou vai ver ela se arrependeu e veio confiscar o carro e o cartão
de crédito.
— Que bom Kyra.
Se você tiver algum problema, gostaria que viesse falar comigo. Tudo bem assim?
— Claro mãe. —
Como se ela pudesse me ajudar nesse rolo de realidade alternativa em que me
meti. Ela levantou com um sorriso de quem sabe algo que eu deveria saber.
— O seu primo
Lance ligou, queria saber se você está bem.
Então foi isso.
Eu deixei ele falando sozinho, ele liga e agora a minha mãe que está com
complexo de mãe e ficou preocupada.
— Está tudo bem
mãe, é sério! Eu só estava com pressa e não parei pra falar com ele. — Ela me
deu um sorriso de alivio e saiu fechando a porta.
[1] N. A. - Palavras iniciais do
seriado jornada nas estrelas.